MISSED-EN-ABÎME | ROGÉRIO NUNO COSTA
16 DE OUTUBRO_ 21H30 | COVILHÃ_ NEW HAND LABMISSED-EN-ABÎME | ROGÉRIO NUNO COSTA

Em 1917, Marcel Duchamp escreve “1917” num urinol virado ao contrário. Em 1919, desenha um bigode no mais importante retrato da história da arte, não o original (ele não é Banksy), nem sequer uma reprodução (a Pop não havia ainda sido inventada), antes um retrato que ele próprio pintou, assim copiando o original e, ao fazê-lo, quase repetindo Melville: I would prefer not to. Em 1921, Man Ray fotografa Duchamp enquanto Rrose Sélavy, fechando o ciclo, ou então abrindo o caminho para o desaparecimento do artista por trás do retrato. Um século depois, ainda não sabemos relacionar-nos, histórica ou artisticamente, com a radicalidade de tais gestos, ora descredibilizando-os (ou procurando-lhes novas autorias), ora atribuindo-lhes uma qualquer intransponibilidade ou irresolução histórica. MISSED-EN-ABÎME quer falar sobre um gesto (centenário) que pode ser lido enquanto destruição, revelação, ou simplesmente ostracismo auto-imposto, como se fosse impossível fazer seja o que for depois de se ter obliterado (quase) tudo. Duchamp terá passado décadas da sua vida a fazer nada, razão pela qual Enrique Vila-Matas lhe terá dedicado algumas notas no seu romance dos autores-do-não (“Bartleby & Cia.”, 2000): «Uma vez, em Paris, o artista Naum Gabo pergunta a Marcel Duchamp porque havia ele parado de pintar. “Mais que voulez-vous?”, responde Duchamp, levantando os braços no ar. “Je n’ai plus d’idées!”». A partir deste impasse, e através da ritualização de um isolacionismo queer e sacrificial, MISSED-EN-ABÎME atreve-se a revisitar a negligência de Duchamp, não para lhe atribuir uma solução — «…parce qu’il n’y a pas de problème» —, antes para aceitar o insucesso, o afastamento, a invisibilidade e o esquecimento, quiçá o desaparecimento, não como rituais de vitimização ou opressão auto-infligida, mas enquanto gestos de resistência/sobrevivência. O projeto, subintitulado “Psicobiografia de um Herói Perdedor (1917-1921)”, contempla um dispositivo tripartido (performance/instalação, livro e filme) pensado para o espaço do museu de arte contemporânea, assim concluindo um percurso investigativo em torno da tríade Arte-História-Solidão realizado por Rogério Nuno Costa em colaboração com artistas e pensadorxs de Portugal e da Finlândia.
Criação, Direção, Edição e Performance_ Rogério Nuno Costa | Produção_ Inês Carvalho e Lemos | Dispositivo Cénico_ Luís Lázaro Matos | Desenho de Luz & Direção Técnica_ Kristian Palmu | Arte Sonora_ Niko Skorpio | Dramaturgia de Movimento_ Pie Kär | Design Gráfico_ Jani Nummela | Workshop e Apoio Dramatúrgico_ Colectivo FACA (Andreia Coutinho e Maribel Sobreira) | Fotografia de Cena_ Miguel Refresco | Financiado pelo Governo de Portugal – Direção-Geral das Artes | Co-produção_ Teatro Viriato e MUDAS – Museu de Arte Contemporânea da Madeira | Residências_ Rua das Gaivotas 6, Là-Bas Studio/Kaapelitehdas, Aalto University (School of Arts, Design and Architecture), Cité Internationale Universitaire de Paris – Maison du Portugal, Campus Paulo e Silva | Apoios_ A Bela Associação, Ballet Contemporâneo do Norte, Estrutura, Teatro Feiticeiro do Norte | Classificação_ M/12 | Duração_ 45m